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Hay'at Tahrir al-Sham (HTS - Organização pela Libertação do Levante ou
Comitê de Libertação do Levante) é o principal dos grupos responsáveis
pela deposição do ditador da Síria, Bashar Al-Assad, após 20 anos no
poder. Desde novembro, o grupo formado em 2017 vinha comandando
ofensivas pelo país. E a recente e surpreendente revolução contra o
governo ditatorial resultaram nas conquistas de Aleppo, Hamã, Deera e
Homs, o coração estratégico da Síria. Na última sexta-feira, os
insurgentes chegaram aos subúrbios de Damasco e tomaram a capital
inteiramente, no domingo, 8/12.
O ex-primeiro-ministro
sírio Mohammad Al-Jalali admitiu à tevê Al-Arabiya que aceitou entregar
o controle do país ao autodenominado “Governo de
Salvação”, formado pelos insurgentes. O HTS nomeou, para o posto
de premiê, Mohammed Al-Bashir, responsável por governar o norte da Síria
e a província de Idlib, depois do avanço dos milicianos. Os seguidores
de Al-Jawlani também anunciaram a anistia a todos os militares
recrutados para o Exército sírio durante o regime de Al-Assad. Nesta
segunda-feira, o chefe dos rebeldes, que abandonou o nome de guerra e
passou a se chamar Ahmad Al-Sharaah, se reuniu com Al-Jalali
"para coordenar uma transferência de poder que
garanta o fornecimento de serviços" à população, afirmaram os
rebeldes, por meio de um comunicado. Até mesmo o Baath, histórico
partido de Bashar Al-Assad, anunciou que apóia uma transição
"para defender a unidade do país".
O grande temor é de que
os 28 grupos rebeldes travem uma disputa interna pelo poder. A Alemanha
e a França se tornaram os primeiros países da comunidade internacional a
se declararem "condicionalmente" prontos a
"cooperar" com a nova liderança síria. O paradeiro de Al-Assad
ainda é um mistério. O Kremlin se negou a confirmar se o ex-ditador
recebeu asilo do presidente Vladimir Putin, em Moscou.
Em meio ao vácuo de
governo na Síria, as Forças de Defesa de Israel (IDF) mobilizaram tropas
na zona de contenção no limite do planalto das Colinas de Golã — anexado
pelo Estado judeu —, depois de o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu
ter ordenado a "tomada" da zona desmilitarizada. Israel ocupa a maior
parte da região há 57 anos.
QUEM É ABU MOHAMMED AL-JAWLANI:
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Abu Mohammed
Al-Jawlani é um pseudônimo. Seu nome real e idade não são
confirmados. Al-Jawlani disse à emissora americana PBS que
nasceu com o nome Ahmed al-Sharaa e que sua família síria veio da
área de Golã. Ele disse que nasceu em Riade, capital da Arábia
Saudita – onde seu pai trabalhava na época – e que cresceu em
Damasco. No entanto, também há relatos de que ele nasceu em Deir
ez-Zor, no leste da Síria, e há rumores vagos de que ele estudou
medicina antes de se tornar um militante islâmico.
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O chefe
do HTS, Abu Mohammed al-Jawlani, foi acusado no passado de cometer
abusos de direitos humanos. Nos últimos anos, ele tem tentado apresentar
uma imagem mais moderada ao mundo, mas os EUA continuam oferecendo uma
recompensa de US$ 10 milhões por sua captura.
De
acordo com relatórios da ONU e da UE, ele nasceu em algum momento entre
1975 e 1979. A Interpol diz que ele nasceu em 1979. Uma notícia do
antigo jornal libanês As-Safir diz que ele nasceu em 1981.
Acredita-se que Al-Jawlani tenha se juntado ao grupo jihadista Al-Qaeda
no Iraque após a invasão do país em 2003 por uma coalizão de forças
liderada pelos EUA. Tal coalizão rapidamente removeu o presidente Saddam
Hussein e seu Partido Baath do poder, mas enfrentou resistência de
diversos grupos militantes.
Em
2010, as forças dos EUA no Iraque prenderam al-Jawlani e o mantiveram em
Camp Bucca, uma base perto da fronteira com o Kuwait. Lá,
acredita-se que ele conheceu jihadistas que mais tarde formariam o grupo
Estado Islâmico (EI), incluindo o futuro líder do EI no Iraque, Abu Bakr
al-Baghdadi.
Al-Jawlani disse à mídia
que depois que o conflito armado eclodiu na Síria contra o governo do
presidente Bashar al-Assad em 2011, al-Baghdadi ordenou que ele fosse ao
país para iniciar um braço da organização lá. Al-Jawlani se tornou
comandante de um grupo armado chamado Frente Nusra (ou Jabhat al-Nusra),
que era secretamente afiliado ao EI. O grupo foi muito bem-sucedido no
campo de batalha.
Em
2013, al-Jawlani cortou os laços da Frente Nusra com o EI e colocou seu
grupo sob controle da Al-Qaeda. No entanto, em 2016, ele anunciou em uma
mensagem gravada que também havia rompido com a Al-Qaeda. Em 2017,
al-Jawlani disse que seus combatentes se uniram a outros grupos rebeldes
na Síria para formar o Hayat Tahrir al-Sham (HTS), e que ele seria o
comandante do grupo inteiro.
Sob o comando de
al-Jawlani, o HTS se tornou o principal grupo rebelde em Idlib e
arredores, no noroeste da Síria. A cidade tinha uma população antes da
guerra de 2,7 milhões, que, segundo algumas estimativas, aumentou para
quatro milhões devido à chegada de pessoas deslocadas.
O grupo controla o
"Governo da Salvação", que atua como uma
autoridade local na província de Idlib, fornecendo serviços de saúde,
educação e segurança interna. Al-Jawlani disse à rede PBS em 2021 que
não seguiu a estratégia de jihad global da Al-Qaeda.
Ele disse que seu principal objetivo era derrubar
o presidente da Síria, Al-Assad, e que os EUA e o Ocidente
compartilhavam esse objetivo. "Esta região não representa uma ameaça à
segurança da Europa e dos EUA", disse ele. "Esta região não é um local
de preparação para a execução de jihad estrangeira."
Em 2020, o HTS fechou as
bases da Al-Qaeda em Idlib, apreendeu armas e prendeu alguns de seus
líderes. Ele também reprimiu as operações do Estado Islâmico em Idlib. O
HTS impõe a lei islâmica em áreas que controla, mas de uma maneira bem
menos rigorosa do que os grupos jihadistas. Ele se envolve publicamente
com cristãos e outros grupos não muçulmanos. Grupos jihadistas o
criticam por ser muito moderado, todavia grupos de direitos humanos
acusaram o HTS de reprimir protestos públicos e de abusos de direitos
humanos. Al-Jawlani nega tais alegações.
O
HTS foi classificado como uma organização terrorista por vários governos
ocidentais e do Oriente Médio, e pelo Conselho de Segurança das Nações
Unidas. Por causa dos vínculos anteriores de al-Jawlani com a Al-Qaeda,
o governo dos EUA está oferecendo uma recompensa de US$ 10 milhões por
qualquer informação que leve à sua captura.
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