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Fazendeiros se organizam em dezenas de cidades da Bahia para reagir ao
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e à onda de invasões
anunciadas para o chamado “Abril Vermelho”. Na versão mais
atualizada, havia 800 fazendeiros listados e distribuídos em 130 dos 417
municípios baianos em sete núcleos de cidades:
Itabuna, Ipaú, Itapetinga, Eunápolis, Santo Antonio de Jesus e Vale do
Jiquiriçá.
A origem do movimento foi
na cidade de Santa Luzia, onde um pequeno grupo de fazendeiros conseguiu
impedir a invasão dos sem-terra. Desde então, o movimento cresceu e
associações e sindicatos rurais têm servido de base para reuniões e mais
recentemente, prefeituras de outras regiões do estado aderiram.
O presidente do Consórcio
Chapada Forte, Wilson Paes Cardoso, prefeito de Andaraí, no centro do
estado, divulgou uma nota dizendo apoiar a reforma agrária. Ele diz, no
entanto, “ser a desapropriação o caminho correto e
que por este motivo discorda veementemente de qualquer ato de invasão ou
ocupação por tratar-se de ação que fere garantia constitucional, o
direito de propriedade e gera insegurança jurídica”.
Sindicatos rurais têm
organizado encontros apoiados pelo time jurídico da Federação de
Agricultura do estado da Bahia para “tratar de
assuntos referentes às invasões de terra em nosso estado”. Um dos
organizadores do movimento é o fazendeiro Luis Uaquim, que produz cacau
e cria gado em Ilhéus.
“O
movimento é uma reação ao governo [do presidente Luiz Inácio] Lula [da
Silva]. O governo Lula vai ter que se adaptar a muita coisa que ele acha
que poderia fazer mas não pode mais”, afirma Uaquim. “O dia 1º de abril
é chave. O MST chama de Abril Vermelho porque gostam de deflagrar
invasões. Faremos vigília. No governo passado [de Jair Bolsonaro] eles
[MST] pararam porque o governo não deixava. Então, estamos nos
organizando e esse movimento está ganhando corpo e dimensão nunca antes
vista. É uma bomba pronta para explodir porque pode haver conflito na
hora de retirar os invasores”, continua o fazendeiro. Ele nega,
porém, que esses grupos ruralistas estejam se armando.
“O
grupo é muito claro. Não pode ter arma de fogo. A gente aposta na
pressão. Se eles entraram na fazenda com 100 [pessoas], nós apertamos o
botão do grupo e vamos para lá com 1.000 pessoas”, explica.
Políticos e governadores,
não apóiam invasões. No dia 7 de março, em evento de posse do novo
presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, Pedro Lupion, o
governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), antiga liderança
ruralista, disse que “enquanto for governador de
Goiás, não terá invasão de terra no estado”. O governador de
Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), divulgou vídeo no dia 11 de março
dizendo que a “cerca deve ser respeitada”.
Em Brasília, por outro
lado, as declarações do ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo
Teixeira, são no sentido da defesa das invasões.
“As políticas do presidente Lula vão na direção da aceleração do
programa de reforma agrária para diminuir os conflitos e garantir a paz
no campo”, disse o ministro em uma entrevista para a
CNN.
O
governo deixa claro a ligação com o MST. No dia 17 de março, cinco
ministros de Estado foram até a 20ª Festa da Colheita do Arroz
Agroecológico em Viamão, no Rio Grande do Sul. Toda a direção nacional
do movimento esteve reunida no evento, além do ministro Paulo Teixeira.
Nas contas do movimento,
há cerca de 100 mil famílias acampadas no Brasil, das quais 80% são
vinculadas ao MST. A maior parte está situada na região Nordeste. O MST
cobra que as nomeações para as superintendências regionais do Incra,
órgão responsável pelos assentamentos, sejam aceleradas.
Fonte: MST.org.br/
cnnbrasil.com.br
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