É
oportuno enfatizar que as origens e a história do Forte dos Andradas se
perdem nas brumas do passado. Em tempos idos, havia três glebas na Ilha
de Santo Amaro, denominadas sítio Canto do Guaibê e sítio Porto do
Guaibê, sendo que, ao lado desse último havia um terceiro com a
denominação de Sítio do Monduba, que significa: estrondo - devido o som
das ondas batendo contra as rochas.
Segundo o Aviso Régio de 1817, o sítio Monduba media
"mil braças de testada e quinhentos de fundo na costa do mar bravo" e,
de acordo com o historiador Costa e Silva Sobrinho, "parte com as terras
do Canto do Guaibê, por um lado, e de outro com terras pertencentes ao
Tenente Benedito Bueno;...".
Com o correr dos anos, o sítio Monduba foi passado a
sucessivos proprietários, chegando, por fim, às mãos do cidadão Gabriel
Dias de Moura. Com o falecimento deste, transferiu-se a posse do
referido imóvel para seus herdeiros legais, até que foi declarado de
utilidade pública, em 23 de junho de 1934, e disponível para a
construção do Forte do Monduba, de acordo com o decreto de
desapropriação, e a partir da metade da década 30 do século
passado, foi erguida uma fortificação subterrânea, que passou a ser
chamada de Forte do Monduba.
É válido ressaltar que Monduba é a ponta oriental na
entrada da baía de Santos, fronteira à de Itaipu. Além disso, o
município de Guarujá forma com a região continental de Praia Grande a
entrada da baía de Santos, sendo, portanto, a Ponta do Monduba um
acidente geográfico estratégico, sob o ponto de vista militar. Posto
isto, o Forte do Monduba foi projetado pelo Tenente-Coronel de
Engenharia João Luiz Monteiro de Barros, em 1934, época em que a cidade
de Guarujá conquistava sua emancipação político-administrativa. Era
ministro da guerra o General Pedro Aurélio de Góes Monteiro.
Tão logo as terras dos antigos sítios foram
desapropriadas pelo Estado e doadas ao Ministério da Guerra, as obras da
fortificação foram iniciadas. Isso ocorreu em 1938, a cargo do
idealizador do projeto, Tenente-Coronel Monteiro de Barros, com explosão
por dinamite de trechos do morro do Monduba, bem como pela preparação do
terreno, bases e alicerces.
Assim é que o Forte passou a ser construído no morro do Monduba, onde,
além do túnel, foi feito o embasamento para os canhões, à entrada da
baía de Santos, na Ilha de Santo Amaro, entre as praias de Guaibê e do
Tombo, constituindo um sistema de segurança que se debruçava sobre o mar
e as terras dos antigos sítios da Prainha e Monduba foram desapropriadas
e doadas ao Exército. Foi entre as rochas escavadas no alto do morro do
Monduba que a fortificação foi edificada.
No período inicial, quando se tratou dos trabalhos de
organização, o Comando da Unidade recém-criada ficou instalado numa sala
da DAC - Diretoria de Artilharia de Costa - no Palácio do antigo
Ministério da Guerra, no Rio de Janeiro. Lá havia reuniões diárias para
o expediente regulamentar, com os primeiros oficiais, subtenentes e
sargentos classificados na 5ª BIAC.
O embarque dos oficiais e praças pioneiros da nova
organização militar veio a ocorrer a partir de 20 de julho de 1942,
quando o Capitão Assumpção, o 1° Tenente de Intendência Oswaldo de Frias Villas (Tesoureiro, Almoxarife e Aprovisionador) e vários sargentos,
embarcaram com destino a São Paulo. Também embarcou com destino a
Santos, no dia 26 de julho, uma escolta comandada pelo 3° Sargento
Dirceu Arruda da Conceição, conduzindo munição para a nova Praça de
Guerra.
Convém lembrar que nos primeiros dias de instalação da
Bateria, o aquartelamento da praia contava apenas com o Pavilhão de
Administração, que já havia sido concluído. As dependências e
instalações do rancho encontravam-se em fase de acabamento, enquanto que
as demais repartições estavam ainda nos alicerces.
O conflito mundial que se desencadeava na Europa
repercutiu no Brasil, uma vez que havia uma ofensiva de submarinos
alemães nas costas brasileiras. Em agosto de 1942, houve a declaração de
guerra do governo brasileiro à Alemanha e à Itália. Dessa forma, no dia
31 do mês citado, foi estabelecido o Estado de Guerra em todo o
território nacional, motivo pelo qual passou a ser organizada, de
imediato, a defesa das costas e das ilhas não costeiras. Naquela época,
já estavam se apresentando os convocados, pois no mês de outubro houve
mobilização geral para a guerra. O Brasil entrava assim no conflito
mundial ao lado das forças aliadas. Foi nesse clima de beligerância que
o Forte do Monduba foi ativado, iniciando realmente suas atividades numa
época de racionamento, envolvendo combustíveis e gêneros alimentícios.
Vale lembrar que, nesse período, o povo passou a ter dificuldades para a
obtenção de produtos básicos como açúcar, carne e pão, sendo este último
chamado de pão de guerra, devido à mistura de ingredientes para sua
confecção. Também passou a vigorar o blecaute nas cidades costeiras,
seguindo determinação da Diretoria Nacional do Serviço de Defesa Passiva
Antiaérea.
Foi no dia 10 de novembro de 1942, que se realizou a
solenidade inaugural do Forte, desenvolvida com grande brilhantismo.
Além do Forte, numa altitude de aproximadamente 200 metros, que está
aberto à visitação pública, sobressai-se o aquartelamento da Praia do Monduba, onde se destaca o prédio do Quartel-General da 1ª Bda AAAe.
Ainda que desativado, o Forte encravado no Morro do Monduba, escondido
pela vegetação, continua sendo alvo da curiosidade de turistas e
visitantes, onde, além do paisagismo e recursos naturais, mantém uma
galeria de exposições, com equipamentos, documentos, fotos e objetos da
época da guerra.