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O QUE SÃO SAMBAQUIS?
Os sambaquis são sítios arqueológicos. Alguns
têm formato de montanha. A base deles é calcário e matéria orgânica,
como conchas, ossos humanos, fragmentos de peixes e mamíferos. Esses
santuários arqueológicos são verdadeiros cemitérios pré-históricos.
Eles se elevam na paisagem como simples colinas à
beira-mar, mas ainda guardam segredos que desafiam os estudiosos. Não
são acidentes da natureza. São construções; frutos de um trabalho
executado durante anos, que podia passar de geração em geração.
Esses
montes, que parecem dunas cobertas de grama, foram feitos com pequenos
fragmentos, principalmente conchas, em pedacinhos, em lascas, inteiras,
depositadas umas sobre as outras num esforço obstinado e caprichoso.
São os sambaquis, nome formado por Tamba, que em
tupi significa concha, e Ki, amontoado. A maioria mede até 6
metros, mas, em Santa Catarina, já foram encontrados alguns com 30 e até
70 metros.
Às
conchas, somavam-se areia, ossos de peixes, restos de fogueira e
ferramentas, e também os corpos dos mortos da comunidade. Esses
materiais iam formando camadas e constituindo plataformas elevadas que,
hoje, são um extraordinário registro dos grupos pré-históricos que
viveram há cerca de 8 mil anos no Brasil.
Exímios
conhecedores do mar, eles ocuparam uma grande parte do litoral e foram
senhores desse espaço até a chegada dos Tupis à
região, por volta de 2 mil anos atrás. O que permite que
arqueólogos no século 21 se debrucem (na verdade, escalem) sobre os
costumes desses povos é, exatamente, a forma enigmática como eles
construíam esses morros.
A
quantidade de conchas nesses sítios é tamanha que, até meados da década
de 80, pensava-se que vinha delas o alimento principal de seus
habitantes. Hoje, sabe-se que os sambaquieiros podiam até aproveitar
como tira-gosto os berbigões, ostras e mexilhões encontrados na praia,
mas seu prato principal era mesmo o peixe.
O
surgimento das colinas artificiais não foi casual e nem efeito do mero
descarte de resíduos alimentares, como se acreditou durante muito tempo.
Atualmente, os estudiosos concordam que sua construção tinha um
propósito. As pesquisas ainda não chegaram a uma conclusão, mas levantam
várias hipóteses. Os sambaquis podem ter sido um tipo de cemitério, ou
um ambiente misto loteado em áreas destinadas a diferentes funções, ou,
ainda, podem ter servido a rituais e como altivo símbolo de status. Ao
subir em um sambaqui, é possível ter uma visão muito ampla do ambiente,
o que também pode ter servido como auxílio às populações sambaquieiras.
A
partir do sul do país, os sambaquis estão presentes numa faixa contínua,
desde o balneário de Torres (RS) até Cabo Frio (RJ). Desse ponto em
diante, os registros passam a ser pontuais, no litoral baiano, Piauí,
Maranhão e Pará. Mas outros podem existir. “É
muito provável que existam sambaquis no Espírito Santo e no restante do
Nordeste, mas há pouquíssima pesquisa nessas regiões”, afirma
Maria Dulce Gaspar, professora do departamento de Antropologia do Museu
Nacional, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), uma das
principais especialistas no assunto no Brasil.
Segundo
ela, há dez anos existiam cerca de mil sítios cadastrados no Instituto
do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
“Mas, para obter o número real, podemos multiplicar esse número por
cinco, seis ou sete. Eu não me surpreenderia se fosse multiplicado por
dez”,
diz.
O MAIOR
SAMBAQUI DO MUNDO ENCONTRA-SE NO GUARUJÁ.
Guarujá, começa a despontar no cenário internacional como um santuário
histórico. E não é para menos. Afinal, a Cidade abriga o maior sambaqui
do mundo. É o que garantem pesquisas do Centro Regional de Pesquisas
Arqueológicas (Cerpa) do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP.
No Município, até o momento foram identificados
15, sendo que 12 já estão registrados no Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Dentre eles, o Crumaú, o mais
alto do planeta, que tem 31 metros de altura e cerca de 100 metros de
largura. Esse sítio arqueológico está localizado no Rio Crumaú, região
de mangue entre a Serra do Guararu e o Canal de Bertioga.
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Durante um ano e dois meses, os
pesquisadores da USP coletaram mais de duas mil peças, entre
conchas, pedras, ossos, dentes trabalhados e restos animais e
humanos. As relíquias estavam sobre o esqueleto de uma baleia
encalhada que se conservou praticamente inteiro. Hoje, uma parte das
peças faz parte do acervo do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP
(antigo Museu de Pré-História) e o restante, a maior parte, foi
incorporado ao acervo do Museu de História Natural de Paris, na
França. Na foto: Joseph Emperaire, Paulo Duarte e Paul
Rivet no Sambaqui da Maratuá, Mar Casado, em Guarujá, em 1954.
Foto: Acervo USP |
Pelas
dimensões do sambaqui Crumaú, acredita-se que sob ele estejam enterrados
centenas de esqueletos humanos, provavelmente de antepassados dos índios
tupiniquins e tupinambás, que habitavam o litoral paulista por volta de
5 mil anos A.C., entre o período pré-cerâmico e pós-cerâmico. Segundo
arqueólogos da USP, os sambaquis eram feitos pelos
povos primitivos, inicialmente, para enterrar os mortos. No ritual do
sepultamento eram utilizadas conchas, que também serviam para os
primatas como ferramentas. Por esse motivo, há grande quantidade desse
material orgânico nesses sítios arqueológicos.
Há anos
o Município desenvolve um trabalho para mapear os sítios arqueológicos e
históricos. O processo, que envolve identificação,
catalogação e registro das descobertas, é realizado pela Prefeitura, por
meio das Secretarias de Cultura e Meio Ambiente, e o Cerpa. O
Município está faz levantamentos dos sambaquis para montar Planos de
Gestão. Esses registros dão subsídios para a realização de uma pesquisa
científica, que inclui datação, ou seja, a identificação do período dos
vestígios encontrados, e escavação pontual para encontrar novas
informações.
Fonte: Estância de Guarujá/ Aventuras na História/ Boqnews/ Marcozero.blog.br
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