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        A Venezuela retomou a cobrança de impostos de importação sobre produtos 
        brasileiros que, até então, estavam isentos mediante a apresentação de 
        certificados de origem. A medida pegou exportadores de surpresa e 
        contraria o Acordo de Complementação Econômica firmado entre os dois 
        países desde 2014. Esse acordo garante isenção tributária para quase 
        todos os itens comercializados bilateralmente.      A 
        Câmara de Comércio Brasil-Venezuela investiga o motivo da mudança, que 
        pode ter origem em falha burocrática ou decisão política. O Ministério 
        do Desenvolvimento e a Embaixada brasileira em Caracas já foram 
        acionados para tentar reverter a medida. Até o momento, o governo 
        venezuelano não apresentou justificativa oficial. 
        A denúncia partiu de empresários do setor produtivo e chegou ao 
        Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), 
        que agora busca mais informações sobre o caso.
 
   DÍVIDA DA 
        DITADURA VENEZUELANA COM O BRASIL SÓ CRESCE: 
        A 
        dívida da Venezuela com o Brasil já ultrapassa R$ 10,3 bilhões e não há 
        perspectiva de quitação. Só de juros desde quando o país passou a ser 
        inadimplente, em 2018, são mais de R$ 2,7 bilhões, e os números mais 
        recentes são de dados oficiais do Ministério da Fazenda, até 28 de 
        fevereiro de 2025 e correspondem aos valores já pagos pela União em 
        indenizações a bancos financiadores e os juros de mora acumulados.      
        No 
        entanto, o valor pode ser muito superior. Estima-se que o passivo total 
        gire entre US$ 1,7 bilhão e US$ 2,5 bilhões, ou o equivalente a quase R$ 
        12 bilhões na cotação atual (R$ 5,42 em 4 de julho). O calote do país de Nicolás Maduro envolve operações de crédito para exportações 
        brasileiras, muitas delas ligadas a obras de infra-estrutura no país 
        vizinho, como metrôs, estaleiros e siderúrgicas.      Os 
        financiamentos foram cobertos pelo SCE (Seguro de Crédito à Exportação), 
        lastreado no FGE (Fundo de Garantia à Exportação), mecanismo operado 
        pela União para garantir o pagamento a exportadores brasileiros em casos 
        de inadimplência dos países importadores. “Todos os recursos foram 
        desembolsados no Brasil, em reais, diretamente aos exportadores”, 
        segundo o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).      O banco 
        ressalta que as prestações não quitadas pela Venezuela 
        “já foram 
        integralmente indenizadas pelo SCE” e que o saldo devedor foi 
        transferido à União. A última indenização foi paga em junho de 2025 - ou 
        seja, a dívida da ditadura Venezuela com o Brasil, continua crescendo - 
        Só nos dois primeiros meses do ano, o estoque aumentou em R$ 960,78 
        milhões, e é o povo brasileiro quem está pagando a conta.      
        Segundo o Ministério da Fazenda, isso ocorre tanto pelo não pagamento de 
        parcelas cobertas pelo seguro — restavam ainda quatro prestações a 
        vencer até junho, ou seja, esse valor pode ser muito maior — quanto pela 
        incidência de juros de mora, que continuarão a se acumular até a 
        quitação. A inadimplência da Venezuela com o Brasil teve início formal 
        em 2018, e a dívida remonta a financiamentos contratados desde o início 
        dos anos 2000 - os valores foram destinados principalmente a operações 
        de comércio exterior e infra-estrutura, com apoio oficial do governo 
        brasileiro.      Do 
        total, cerca de US$ 1,5 bilhão está diretamente ligado a grandes obras, 
        como o metrô de Caracas. Com a inadimplência, o FGE cobriu os pagamentos 
        aos bancos, mas a fatura recaiu sobre o Tesouro Nacional. 
        “O FGE cobriu 
        grande parte desses pagamentos ao BNDES, transferindo a dívida para o 
        Tesouro. Então, não é que o fundo supriu o problema, resolveu o problema 
        com a Venezuela. Todos nós, cidadãos brasileiros, estamos pagando por 
        essa dívida”, explica o professor de Relações Internacionais da UFF e 
        pesquisador de Harvard, Vitelio Brustolin. “A Venezuela insiste em não 
        responder às cobranças formais, nem resposta o Brasil tem. A negociação 
        está totalmente suspensa”, complementa.      Em 
        resposta a um requerimento de informações do deputado Nikolas Ferreira 
        (PL-MG) enviado ao Ministério da Fazenda no começo do ano, a pasta 
        informou que a Venezuela tem sido cobrada formalmente por vias 
        diplomáticas e comunicações diretas ao Ministério da Economia 
        venezuelano. “Diante da ausência de resposta das contrapartes 
        venezuelanas, o processo de cobrança foi retomado com a cobrança 
        periódica dos valores, incluindo os juros de mora, tanto por meio 
        diplomático quanto por comunicações diretas ao Ministério da Economia 
        venezuelano”, diz o texto assinado pela secretária de Assuntos 
        Internacionais da Fazenda, Tatiana Rosito. A Fazenda ainda aponta que as 
        dívidas venezuelanas com o Brasil também vêm sendo reportadas a 
        instituições multilaterais, como o Clube de Paris. No entanto, esse 
        mecanismo é apenas consultivo.      Pela 
        lei internacional, um país também não pode simplesmente perdoar a 
        dívida, mas há possibilidade de reestruturação judicial da dívida. No 
        entanto, as chances de sucesso são limitadas. 
        “Não vai ser fácil, porque a justiça venezuelana é controlada pelo 
        regime [de Nicolás Maduro]. Tem também negociações bilaterais e acordos 
        de cooperação, como discutido o acordo de cooperação e facilitação de 
        investimentos, em 2023 e 2024. Mas, não houve nenhum avanço. Existem 
        ferramentas diplomáticas e jurídicas, mas a eficácia dessas ferramentas 
        depende da disposição da Venezuela, que atualmente optou pelo silêncio”, 
        avaliou Brustolin.      A 
        Fazenda esclareceu que não há prazo estabelecido para o pagamento ou 
        renegociação da dívida. “A aplicação da mora representa uma penalidade: 
        o valor da dívida será incrementado até a quitação ou renegociação. A 
        resolução da questão depende do engajamento da contraparte, não sendo 
        possível assim estimar um prazo para conclusão”, diz o documento. Além 
        do Brasil, a Venezuela acumula dívidas com outros credores 
        internacionais, segundo Brustolin, o país deve cerca de US$ 20 bilhões à 
        China e mais de US$ 60 bilhões à Rússia e detentores de bônus 
        internacionais, muitos deles com pagamentos suspensos desde 2017 e  
        também há pendências regionais, como os acordos de fornecimento de 
        petróleo a países caribenhos, incluindo Cuba e Haiti.      O BNDES 
        reforçou que, conforme seus normativos internos, não pode conceder novos 
        financiamentos a países em inadimplência. Já a responsabilidade por 
        negociar a recuperação do crédito externo da União está, desde o início 
        de 2024, sob responsabilidade da Secretaria de Assuntos Internacionais 
        do Ministério da Fazenda.      A 
        relação política entre os governos brasileiro e venezuelano também 
        passou por mudanças. Em 2023, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva 
        (PT) defendeu eleições livres na Venezuela, mas as condições de 
        transparência não foram atendidas. Como resposta, o Brasil vetou a 
        entrada da Venezuela no Brics, e o diálogo entre os países foi 
        interrompido.       
        
 Fonte: R7/ Revista Oeste
     
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