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Desde a invasão da Ucrânia, em fevereiro de 2022,
além das baixas militares e civis em ambos os lados, a Rússia também
registrou mortes de figuras de alto escalão, principalmente de oposição
ao regime de Vladimir Putin, e empresários. Suicídios entre opositores
do Kremlin passaram a ser um fenômeno recorrente no país. Quedas de
janelas, mal súbito, suicídios acompanhados de cartas de despedida,
queda de avião e mortes em prisões estão entre as circunstâncias
registradas.
O tema
foi reacendido e teorias conspiratórias sobre táticas usadas pelo regime
de Moscou para eliminar ameaças voltaram aos jornais de todo o mundo
após a morte de três figuras ligadas ao meio político e empresarial
nesta última semana.
Ex-ministro dos Transportes da Rússia, Roman
Starovoit foi encontrado morto na região metropolitana de Moscou.
O falecimento aconteceu horas após ele ser demitido por Vladimir Putin.
O jornal "Izvestiya", citando fonte
anônima, informou que o ex-ministro teria atirado contra si mesmo.
Outros veículos russos informaram que uma arma pertencente a ele foi
encontrada ao lado do corpo. O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov,
disse, em coletiva de imprensa na terça-feira (8/7), que o governo russo
está chocado com a morte de Starovoit.
O caso,
ocorrido na segunda-feira (7/7), chamou a atenção do mundo ao se somar a
uma série de mortes em circunstâncias suspeitas na Rússia nos últimos
anos, que envolvem autoridades governamentais, opositores de Vladimir
Putin e empresários influentes. Um dos principais opositores de Vladimir
Putin, Alexei Navalny morreu em fevereiro de 2024, aos 47 anos. Ele
estava em uma colônia penal no Ártico. Segundo um laudo do governo
russo, o político morreu de causas naturais.
Na
época de sua morte, o Serviço Penitenciário da Rússia afirmou, em um
comunicado, que Navalny havia se sentido mal durante uma caminhada e
perdeu a consciência. De acordo com a agência russa Tass, ele foi levado
ao hospital, e socorristas tentaram reanimá-lo por 30 minutos.
Antes
de sua morte, o político já havia sido alvo de tentativas de
envenenamento. Em um dos casos, ocorrido em 2020, ele chegou a ser
levado às pressas para a UTI depois de passar mal em um vôo. Foi
descoberto, à época, que agentes químicos haviam sido implantados em
suas roupas íntimas. Em 2024, depois de sua morte na prisão, a família
de Navalny acusou o governo russo de tê-lo assassinado. Os Estados
Unidos e a União Européia também responsabilizaram a Rússia pela morte,
mas o país negou as acusações.
Outra vítima, Yevgeny Prigozhin morreu em agosto
de 2023, após o avião em que ele estava cair perto de Moscou. Prigozhin
tinha 62 anos e era amigo íntimo de Putin até poucos meses antes de
morrer. Os dois romperam após o Grupo Wagner iniciar uma campanha
para destituir o ministro da Defesa da Rússia em junho de 2023. O grupo
Wagner, sob comando de Prigozhin, participou ativamente do conflito
entre Rússia e Ucrânia, lutando ao lado das forças russas.
As
circunstâncias da morte do líder mercenário ocorreram dois meses após o
rompimento com o governo Putin. Apesar do Kremlin negar qualquer
envolvimento na morte de Prigozhin, autoridades ocidentais sugeriram
posteriormente que ele poderia ter sido assassinado. O jornal Wall
Street noticiou, em dezembro de 2023, que o aliado mais antigo de Putin,
Nikolai Patrushev, havia ordenado o assassinato de Prigozhin, citando
autoridades de inteligência ocidentais.
Alexander Litvinenko foi morto em novembro de
2006, em Londres, por envenenamento, conforme determinaram as
investigações das autoridades britânicas. Litvinenko trabalhou
para a agência que Putin comandou na década de 1990, antes de se tornar
presidente.Sua carreira incluiu atuação como agente da KGB durante o
período soviético, continuando posteriormente no Serviço Federal de
Segurança da Rússia (FSB) após o fim da União Soviética. Litvinenko
havia se tornado crítico do regime de Putin após deixar a Rússia.
Ravil Maganov, presidente da companhia petrolífera
russa Lukoil, faleceu aos 67 anos em setembro de 2022 após cair da
janela do hospital em Moscou onde estava internado. Antes de sua
morte, a Lukoil havia emitido comunicado expressando condolências às
vítimas dos bombardeios na Ucrânia e solicitando o fim do conflito. A
posição da Lukoil sob liderança de Maganov diferenciou-se da narrativa
oficial do Kremlin sobre a operação militar na Ucrânia. Autoridades
russas classificaram o incidente como acidente.
O empresário Pavel Antov, magnata do setor
alimentício e deputado regional na Rússia, foi encontrado morto em
dezembro de 2022 em um hotel na Índia, poucas semanas após criticar
publicamente a invasão russa à Ucrânia. Antov integrava o mesmo
partido político de Putin e ocupava posição em um comitê governamental
de agricultura. Seu corpo foi localizado próximo ao hotel onde estava
hospedado.
De
acordo com a mídia russa, ele teria caído de uma janela. Dois dias
antes, um amigo que o acompanhava na viagem à Índia foi encontrado
morto, rodeado de garrafas de vinho. Em uma entrevista, um policial
disse que a suspeita é de que Antov tenha se matado depois de ficar
deprimido com a morte do amigo.
Ainda há relatos de importantes executivos
russos morrendo em circunstâncias misteriosas, que incluem aparentes
suicídios ou quedas de grandes alturas. Um dos casos aconteceu em 2013,
quando Boris Berezovsky foi encontrado aparentemente enforcado no
banheiro de sua casa na Inglaterra. Ele era um ex-membro do Kremlin que
se tornou crítico do governo Putin e se auto-exilou no Reino Unido no
início dos anos 2000.
Alguns dos associados de Berezovsky também
morreram em circunstâncias misteriosas, incluindo Badri Patarkatsishvili,
um oligarca georgiano e parceiro de negócios, Nikolai Glushkov e o
fundador da petrolífera Yukos, Yuri Golubev. Todos foram encontrados
mortos em Londres.
Após a
invasão da Ucrânia, outras mortes suspeitas também aconteceram,
principalmente entre empresários e dirigentes que tinham ligações com
setores estratégicos como petróleo, gás ou bancos.
Alguns deles também chegaram a criticar abertamente a guerra. A morte de
Kristina Baikova, vice-presidente do Loko-Banka, é um desses exemplos.
Ela faleceu após cair do 11º andar de um apartamento em 2023, aos 28
anos.
Fonte: Jornal o Tempo/ Gazeta do Povo
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